CORRUPÇÃO

Antes de falar sobre o tema, é bom esclarecer algumas coisas: não aceito tampouco acredito que todos os políticos brasileiros são corruptos, mas sei que aqueles que não são acabam se tornando, muitas vezes por não conseguirem enfrentar tantos inimigos no legislativo, que usam de todos os meios para derrotar seus oponentes e garantir seus ganhos.
Há algum tempo atrás, não sei precisar quando, falei sobre corrupção com o título" corrupção institucional". Falei sobre corrupção acreditando que revendo conceitos básicos, como os que abordaram no texto poderiam fazer sentido para os leitores. Mas, vendo que certas coisas não mudam, mesmo que toda a população brasileira vá para as ruas, acho justo falar novamente sobre o tema.
É difícil precisar o momento exato em que o primeiro ato de corrupção aconteceu, mas todos veem como esse monstro é tão ativo em nossa política, que em todas as esferas, em todos os órgãos, existe alguma negociata. O que não percebemos é que, quando falamos de corrupção, falamos de uma extensa rede, onde o "corrupto" é apenas a ponta do iceberg que temos em nossos mares. Para cada deputado que se vende, existe algum empresário precisando de um favor, um grupo de empresas bem intencionadas que só querem explorar uma determinada região, ganhando o máximo que puder e pagando o mínimo de impostos, ou de um criminoso, que tem no bolso alguns deputados, senadores, talvez um ou outro ministro e, quem sabe, um governador.
Essa rede está ativa em todos os cantos do país, com vários membros envolvidos. Não é difícil imaginar o quanto rende para um simples fiscal fazer a boa e velha “vista grossa”, sempre aumentando o valor da multa para receber um pequeno agrado, seja em uma casa noturna que não tem condições de funcionar, ou de uma empresa que está em condição irregular mas em troca de um presente para o mesmo fiscal tudo é esquecido, ou para um policial, que não dá a multa para quem realmente infringe alguma lei de trânsito em troca de algum agrado.
Esses exemplos só mostram como pequenos atos de corrupção, “inocentes” podem se tornar um grave crime. Como não afirmar que a boate Kiss, em Santa Maria, não foi alvo de uma fiscalização, mas que foi liberada após um pequeno “agrado” para a fiscalização? Mais de 230 jovens mortos porque a boate não possuía uma única saída de emergência, e os seguranças, tão ignorantes e imbecis, não deixaram que os fregueses fugissem por medo de não pagarem.
Também não posso deixar de lembrar o famoso edifício Palace 2, que desabou no Rio de Janeiro em 1998. O dono da construtora, o então deputado Sérgio Naya havia superfaturado as despesas da obra, registrando nas notas fiscais valores muito acima do preço de mercado e, em contra partida, comprando materiais de qualidade bastante inferior. Foi por esse motivo que levou o prédio a desabar, acabando com a vida de centenas de famílias. Foi pela ganância desmedida de Naya que o prédio desabou. Porque utilizou material de péssima qualidade para lucrar o máximo possível, desrespeitando que usou tudo o que tinha para comprar a sua tão sonhada moradia. Tudo isso só foi possível porque houve favorecimento. Alguém, além do próprio Sério Naya levou algum com essa negociata. E acreditem, após 15 anos (exatamente, QUINZE ANOS) ainda não foi resolvido o caso. Naya morreu em 2009, seus bens entraram para o espólio, e os imóveis em nome da Sersan, empresa de Naya, foram bloqueados para pagar as indenizações às famílias, que ainda não receberam toda a quantia.
Uma curiosidade: Naya teve seu mandato cassado após a Globo divulgar no Jornal Nacional uma gravação onde Naya confessava vários crimes, entre eles ter falsificado a assinatura do então governador de Minas Aluísio Azeredo.
O monstro chamado corrupção está em todas as esferas da política brasileira, se apresentando como um atalho milagroso, que promete encurtar distâncias, fazer milagres, criar amizades e ganhar muito, mas muito dinheiro. O preço a ser pago, para muitos, é a alma, a paz do espírito, até mesmo a liberdade, pois quando se fecha um pacto com o demônio os benefícios são a curto prazo, mas o preço se torna alto demais.
Todos aqueles que se dizem incorruptíveis é que ainda não foram tentados com o valor certo, pois como diz aquela frase clichê de cinema, todo homem têm seu preço. Nem sempre se trava de dinheiro, pode ser uma ameaça a uma familiar, um amigo, um local, um segredo muito bem guardado. A máquina da corrupção não mede esforços para descobrir o ponto fraco da pessoa e explorá-lo da forma que bem entender. É por esse motivo que se torna quase impossível acabar com a corrupção no Brasil, pois não importa quantos esquemas a polícia e o Ministério Público desmontem, sempre existirão mais.
O problema maior não são as pessoas, mas o sistema em si. A corrupção é uma ferramenta fundamental para a sobrevivência do Estado, pois sem essas engrenagens escusas, todo o aparato Estatal cairia por terra, engessado pelas suas próprias diretrizes. A corrupção, ou o simples ato de corromper uma determinada pessoa, permite que as engrenagens funcionem, pois como diria aquele personagem do Zorra Total, interpretado pelo ator Milton Gonçalves, “soltou o maço (de dinheiro), carimbaço!”

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