Corrupção institucional


Desde que o mundo é mundo, alguém sempre se utiliza de meios pouco usuais pra conseguir o que quer. Em todas as cortes dos reinos da antiguidade, existiam os cortesões que, mediante um pagamento singelo e “módico”, poderiam interceder junto ao soberano, ou mesmo um acordo no conselho de anciões para derrubar um determinado líder, para que todos pudessem aproveitar, de algum jeito. Essa prática persistiu em todos os lugares do mundo, em todos momentos da história, e chegou até nós com o nome bonito de corrupção.
Hoje vemos a corrupção como um mal execrável, que deve ser banido para sempre. Como um demônio que destrói pessoas de bem e as transformam em seres repugnantes que se vendem por qualquer moeda. O que odiamos hoje não é a corrupção em si, pois ela SEMPRE existiu, mas os efeitos que ela causa na vida das pessoas. Vamos voltar um pouco, perto do começo da era cristã, quando um homem vendeu outro homem por 30 moedas de prata. Judas, o traidor. Ou poderíamos chama-lo de Judas, o corrupto. Ele aceitou a barganha para vender Jesus e depois que bateu a crise de consciência (ou cagaço) ele se matou. Todos ouviram essa história nos milhões de filme sobre a paixão de Cristo, ou nas encenações e missas ao longo da vida.
 O que revoltou as pessoas não foi o fato de Judas ter entregado um judeu que era, aos olhos do Sinédrio (os chefes do templo) em troca de grana, mas sim a conseqüência do seu ato, que foi o suplício de Jesus. Se fosse outra pessoa que ele tivesse entregado, não haveria nenhum problema e o nome dele não seria nem lembrado. Olhando criticamente para o fato, os membros do Sinédrio subornaram um apóstolo de Cristo para que ele o entregasse para ser preso e morto. Isso não era incomum, pois sempre, em qualquer lugar do mundo, sempre vai existir uma pessoa que vai se vender para um governo ou grupo de pessoas para cumprir um propósito que não é legal.
A mecânica continuou por muito tempo até que, no nosso mundo atual, onde tudo pode virar mídia, e onde as pessoas que estão no poder tiveram a sua sede por poder e riquezas só aumentou, a corrupção virou moeda corrente. Em qualquer governo, ou mesmo empresas privadas, se procurarmos bem na contabilidade, vamos encontrar o bom e velho caixa-dois. A corrupção se tornou tão comum na nossa vida que nós mesmos praticamos. Um exemplo comum é do pai que, preocupado e nervoso com o filho que não tira boas notas na escola, faz um acordo com o filho e promete que se o filho tirar as notas necessárias o pai realiza um sonho do filho (pode ser qualquer coisa, desde um brinquedo até uma viajem ou um carro). Obviamente, o filho estuda igual um camelo e consegue passar de ano.
O final da história é bonito, ambos estão felizes, e o pai orgulhoso com o desempenho do seu filho, mas a mensagem é perturbadora: o pai teve que recorrer a um suborno para que o filho fizesse a vontade dele. Se pegarmos esse exemplo e tirar os personagens e colocarmos outros, teremos um empresário que recebe um fiscal, que reconhecendo as irregularidades lhe aplica a multa, mas o empresário propõe uma oferta irrecusável para o fiscal, pagando até 100 vezes mais o que ele ganha por ano para que ele não fiscalize nada na empresa.
Qualquer pessoa pode achar que comparar um pai que tenta fazer com que o filho passe de ano lhe prometendo uma recompensa e um empresário tentando impedir que um fiscal lhe aplique uma multa é idiotice mas, o fim é o mesmo: o pai teve que subornar o filho para que ele passasse de ano, e podemos entender que o filho não teria capacidade de fazer por esforço próprio, daí o propósito de comprar a nota do filho.
Da mesma forma o empresário, que estava em situação irregular, comprou o silêncio do fiscal e resolvido o problema. Independente da esfera, a corrupção se torna presente na nossa vida. Pode parecer loucura da minha parte, mas todos os políticos que foram indiciados por corrupção realmente não acreditam que tenham cometido algo ilícito, pois é tão comum comprar o silêncio ou agilizar serviços ou decisões, desviar recursos para fundos particulares em paraísos fiscais onde ficam isentos de qualquer imposto, e servem de fundo de campanha, ou então de pensão vitalícia para as famílias desses políticos. E coitado do infeliz que ouse falar que os maiores “defensores do povo” são corruptos. É fato que a corrupção existe em TODOS os setores da sociedade, não existe nenhum lugar totalmente isento.

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas